05 novembro, 2006

A Inclusão e o letramento digital

Esses dias estava lendo alguns artigos do livro Inclusão digital: tecendo redes afetivas /cógnitas, de Nilze Pellanda, Elisa Schlunzen e Klaus Junior. E um desses artigos que chamou muito minha atenção foi o artigo de Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, cujo título é Letramento Digital e hipertexto: Contribuições à educação.
Pois nesse artigo a autora faz uma associação entre a alfabetização digital e letramento digital. A princípio a autora ressalta a questão do analfabetismo propriamente dito, com a questão do analfabeto funcional (aqueles que aprenderam as letras – a codificação, porém não conseguem utilizar a leitura e a escrita em práticas socioculturais). Já para o IBGE o analfabeto funcional são aqueles cuja escolaridade não chegou a quatro anos de estudo, independente das condições contextuais. Um outro conceito apresentado para o analfabeto funcional, é o conceito trazido pela UNESCO, em que considera o analfabeto funcional todas as pessoas que mesmo dominando a leitura e a escrita não demonstrem competência para empregá-la em seu desenvolvimento pessoal e profissional.
A partir dessas reflexões acerca do analfabeto funcional é que podemos chegar à questão do Letramento, que para Soares (2002), está relacionado com a apropriação da leitura e da escrita para exercer a cidadania, ter condições de acesso à cultura da sociedade letrada e corresponder as suas demandas utilizando o ler e escrever em práticas sociais. Ou seja, o letramento diz respeito ao aprender – tomar para si - a tecnologia da escrita e utilizá-la socialmente.
Nesse contexto, no centro dessas discussões sobre o mundo do letramento, é que entra em cena a questão do desafio da utilização da TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação). E esse desafio está relacionado principalmente para aqueles que sequer conseguem empregar a escrita em situações de sua vida, daí surge à necessidade de ações com o intuito a formar pessoas letradas com competências a resolver as situações do seu cotidiano e paralelo a isso poder enfrentar os desafios de sua inserção na sociedade da informação.
Outro ponto a destacar ainda nesse artigo, é quanto ao letramento e a TIC, nesse sentido o que consigo enxergar nessa pesquisa acerca da questão da Inclusão digital, é que muitos conceitos e até mesmo muitas ações estão baseadas no reducionismo de somente ter “acesso à máquina” , como se isso fosse suficiente para que aquela pessoa pudesse por assim dizer, estar incluída digitalmente. Porém, essa é uma idéia simplista e equivocada supor que basta apenas colocar computadores em diferentes lugares e ter cursos instrumentais de informática, que as pessoas estarão incluídas digitalmente ou até mesmo estarão letradas digitalmente.
É evidente, que o computador se faz necessário, uma vez que o letramento digital necessita da TIC para se concretizar, porém se pensamos nesse contexto a questão da “exclusão digital”, não seria apenas estar alheio, ou ausentes do computador e sim é continuarmos incapazes de pensar, criar, produzir, nesse contexto digital. Pois ter acesso a TIC e utilizar seus recursos com certa proficiência, tanto pode indicar ação de um usuário consumidor passivo quanto de um usuário crítico. Já que ler telas, apertar teclas, utilizar programas, ter um cursinho rápido de informática para ter conhecimento de certos Softwares, e etc, esta para a inclusão digital da mesma forma que à alfabetização no sentido pleno de apenas identificar as letras, da codificação e decodificação. Nesse sentido Almeida, ao citar Buzato diz que,

a fluência tecnológica se aproxima do conceito de letramento como pratica social, e não como simples aprendizagem de um código ou tecnologia; implica a atribuição de significados à informação provenientes de textos construídos com palavras, gráficos, sons e imagens dispostos no mesmo plano, bem como localizar, selecionar e avaliar criticamente a informação e comunicação e empregando na leitura do mundo, na escrita da palavra usada na produção e representação de conhecimento” (Buzato, 2003)

Entendo, que ao proporcionar uma certa fluência tecnológica as pessoas, significa também que torna-se preciso proporcionar uma utilização da TIC de forma crítica, com o objetivo de se obter uma aprendizagem significativa, autônoma e continua, de se oportunizar a produção de conhecimento necessários a sua melhora de vida, e por fim apoiar a criação de nós da rede de relações comunicativas em que todos posam ter acesso e possam assim se conectar.
Nessa perspectiva, podemos trazer também as idéias de Paulo Freire, quando este coloca a questão da alfabetização como ponto de partida a leitura da palavra por meio da leitura de mundo. Portanto, nesse sentido Almeida (2005:174) conceitua o letramento digital como “o domínio e uso da tecnologia de informação e comunicação para favorecer ao cidadão a produção critica do conhecimento, com competência para o exercício da cidadania e para inserir-se criticamente no mundo digital, tal como um leitor ativo, produtor e emissor dessa informação”.
Desta forma, podemos dizer que o letramento digital favorece de uma certa forma a inclusão crítico-social e o desenvolvimento de proficiência tecnológica. Ainda nessa perspectiva do letramento digital, é preciso levar em consideração o contexto em que o alfabetizando esta imerso, ou seja, sua realidade de vida e de trabalho, suas crenças, necessidades e expectativas, para que este possa explicitar suas curiosidades sobre o mundo digital e as problemáticas do seu dia-dia.
Ao associarmos essa realidade a uma ação de Inclusão digital, teríamos como proposta metodológica temas geradores que venham se originar a partir das necessidade dos usuários, como também esses temas geradores podem estar associados à experiência de vida, trabalho, curiosidades e desafios a serem alcançados no mundo digital. Tal proposta, parte do pressuposto de entendermos que a incorporação das práticas sociais de leitura, escrita e comunicação por meio da TIC, favorece de uma certa forma a leitura do mundo, assim como possibilidades e contradições desse mundo digital.
Nesse processo de alfabetização digital, estamos cientes que a instrumentalização e o acesso favorecem por assim dizer “ao domínio aos recursos tecnológicos”, porém, não a uma formação de usuários críticos, tanto quanto usuários com competências para utilizar a TIC em suas atividades do cotidiano. Daí a grande necessidade e esforços no sentido de proporcionar a democratização do acesso, principalmente a Internet e à informação, e sobretudo, a necessidade de desenvolver competências que favoreçam aos usuários desenvolver criticamente sua proficiência tecnológica, para que possa utilizar a TIC, de forma a atuar em sua vida como um todo e que possam adentrar criticamente no mundo digital e praticar a liberdade de socializar, discutir, construir e reconstruir, e por fim, que possam publicar seus conhecimentos produzidos, como também fazer com que todo esse processo tenha algum significado na vida de cada um.

Referências:

ALMEIDA. Maria E. B. Letramento digital e hipertexto: contribuição à educação. In: PELLANDA, Nilze Maria. Inclusao Digital: tecendo redes afetivas/cognitivas. São Paulo : DP&A, 2005, p. 171-192.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 2003.

SOARES, Magda. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educação e Sociedade, Campinas. V.23, n.81, p.143-160, dez. 2002. Disponível em:<>. Acesso em 04 nov. 2006

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