12 novembro, 2006

SEMPPG E SEMEP



Seminário Estudantil de Pesquisa, mais precisamente seminário do PIBIC, foi esse mais um evento que participei nos últimos dias 08,09,10 e 11 de novembro de 2006.
O que aconteceu nesse seminário? A princípio ocorreu a cerimônia de abertura com uma conferência com o Prof. Herch Moysés Nussenzveig (UFRJ)-“A Física da Vida” .Além de peças teatrais, que posso abrir aqui uma ressalva sobre a peça encenada por Ricardo Fagundes, em que este trouxe um trecho da obra de Clarice Lispector – “O grande passeio”. Esta peça é um monólogo e o resultado prático do trabalho de mestrado em artes cênicas do próprio Ricardo.
Nos outros dias trabalhamos muito com a nossa Rádio Faced, para cobrir todo o evento. E como se trata de um seminário estudantil, ali estava exposto o resultado das pesquisas dos bolsistas (alunos de graduação e pós-graduação). Em conjunto com a exposição dos painéis também ocorreram sessões de exposições orais dos trabalhos de pesquisas.
Ainda no próprio seminário tive a oportunidade de participar de um mini-curso, palestrado pelo Prof. Caio Castilho (Prof do Instituto de Física da UFBA). Nesse mini curso, Caio abordou a questão da pesquisa: O que é, porque se faz, como se faz e o que se espera? E nas próximas linhas venho escrever uma breve do que foi debatido, e dito nesses dias com esse mini-curso.
O grande questionamento a se fazer é: o que leva as pessoas a realizar pesquisa? Um ponto desse questionamento esta relacionado a utilidade (entender, compreender e construir), porém, não é apenas isso! Uma vez que esse tipo de pesquisa é destinada para o bem-estar das pessoas, portanto, se pensarmos numa sociedade capitalista esse tipo de pesquisa passa então a ser destinado ao bem-estar das “empresas”.
A motivação para a pesquisa, voltada à possibilidade do retorno, é relativamente recente, pois a partir do século XIX que a ciência passa a contribuir significativamente com a tecnologia.
Ao reportar para a situação atual e ao fazer um exame da história, percebe-se que a visão aristotélica de considerar que a ciência não oferecia outro retorno além da satisfação intelectual era uma visão romântica. Caio Castilho traz também a questão da pesquisa como uma relação entre conhecimento e poder: nessa relação podemos então nos questionar a respeito criação tardia das universidades brasileiras. E compreendemos que este fato ocorreu, pois os “portugueses não eram tolos!”. Se as famílias ricas enviavam seus filhos para estudar na Europa, nesse sentido o conhecimento era moldado a atender determinados interesses, nesse sentido podemos dizer que “o conhecimento é poder”.
Ao pensamos nas pesquisas desenvolvidas nas empresas atualmente, percebemos que esta é realizada em quase sua totalidade “um objeto de segredo”. Castilho destaca que nos EUA, na época da escravidão era proibido ensinar a ler e escrever, já que o conhecimento era um fator de liberdade!
No segundo dia do mini-curso Castilho colocou a questão da validade da pesquisa, nesse sentido quem dar validade de um cientista é outro cientista. Porém, é preciso não ser ingênuo, pois o pesquisador deseja ser o primeiro a descobrir algo. Daí, Castilho, coloca que a pesquisa é uma “vaidade”, no sentido desta vaidade ser um ingrediente presente no dia-dia de uma pesquisa.
A partir dessa perspectiva, Caio coloca também a noção de causa e efeito, que são extremamente importantes para a ciência. Em termos práticos, procuramos estabelecer eventos para que sejam repetidos, a essa repetição, como resultado atribuímos um tratamento estatístico. Quando existem eventos que se sucedem, você diz que o primeiro é a causa e o segundo o efeito. Agora! É preciso ter cuidado quanto a isso! Pois isso é uma pista e não uma garantia.
Se encontrarmos eventos que existe uma conexão entre eles, e se o primeiro não ocorreu e se o segundo também não acontece, nesses casos o primeiro é dito como causa.
Quando estamos fazendo ciência duas etapas importantes são: análise e síntese. Em qualquer fenômeno é bastante complexo para ser explicado em detalhe, logo, precisamos de alguma forma simplificar. Assim: ignoramos uma série de aspecto do evento e discutimos a uma versão idealizada. A partir disso, quão adequada depende da precisão que se deseja na análise.
Além da necessidade da “versão idealizada”, freqüentemente temos que quebrar o objeto para poder analisar, ou seja, fatiar para analisar. Essa possibilidade depende de partes aproximadamente independente. É evidente que essas partes precisam estar relacionadas entre si, e temos que tomar cuidado para não perder a noção de que essas partes constituem um todo único.
Após a seleção, a observação e a descrição do objeto de estudo, é necessário formular a hipótese (a idéia, tentativa de conexão entre os fenômenos observados), a hipótese às vezes antecede a observação.Vale ressaltar, que existe e isso é freqüente, casos em que o resultado da pesquisa é a negação da hipótese, mesmo negando este tem valor cientifico.
A qualidade, a criatividade e mesmo a “genialidade” do cientista tem a sua melhor oportunidade de manifestar-se justamente na formulação da hipótese. A possibilidade de formular hipóteses resulta de que existe alguma ordem na natureza, nesse caso usualmente faz-se opção pela mais simples.
A hipótese às vezes é uma idéia, tentativa, uma possibilidade de ser verificada, pouco mais que uma conjectura . Agora! Ela não pode ser confundida com a lei, pois, só se torna lei quando é exaustivamente testada.
Caio ressalta que o método básico da ciência é tentar buscar a generalização e fazemos isso por indução (que é uma operação mental, que consiste em se estabelecer uma verdade universal ou uma proposição geral). Nesse processo concluímos que no ponto de vista racional não é fácil justificar a indução, porém isso é uma prática humana. Outro ponto a destacar é a dedução (processo pelo qual, com base em uma ou mais premissa, se chega a uma conclusão necessária em virtude da concreta aplicação da regra lógica).
Ainda nessa perspectiva da pesquisa abordamos agora a questão da “hipótese”, quando esta é concebida e as observações são continuadas, passamos a deduzir as conseqüências disso. Ou seja, isso permite que as deduções sejam feitas de forma mais simples. Portanto, a ciência é mais do que um corpo do conhecimento, e sim é um modo de pensar. Fazer ciência é uma forma de fazer e pensar em coisas distintas.
Assim sendo, podemos trazer mais alguns pontos acerca da pesquisa, neste caso a questão do: Porque? E para que?E uma das razões é compreender o ser humano e sobre o que passa ao seu redor (sua história, as oportunidades e os recursos), vez que o que se passa ao redor é provavelmente universalmente único.
Ao se fazer ciência, não é apenas para que futuramente venhamos nos tornar biólogos, físicos, químicos, etc e tal e sim, sobretudo, para se compreender enquanto ser humano. Existe uma necessidade, uma conveniência e a possibilidade da ciência e da tecnologia de contribuírem para o progresso do ser humano, na sua dimensão mais ampla. A ciência é importante no ponto de vista da dimensão social, histórica e econômica. A tecnologia na verdade historicamente antecede a ciência e atualmente a tecnologia “anda” junto com a ciência.
Então como fazer pesquisa? O primeiro ponto é ter pessoas competentes, não pode fazer ciência sem formação de recurso humano. Mas além disso é preciso regularidade, previsibilidade e simplificação de procedimentos. A atividade de pesquisa requer uma liderança científica, pois esta não resulta de um processo democrático, e tem um caráter agregário (grupos de pesquisa).
No terceiro dia do mini-curso as discussões estavam voltadas para a questão dos recursos financeiros para se desenvolver uma pesquisa. Nesse sentido, Castilho destaca que para que se realize pesquisa torna-se necessário investimento. No Brasil a grande financiadora de pesquisa vem dos órgãos governamentais e muito pouco das empresas privadas.
Na medida que a verba no Brasil, vem do governo, é preciso entender e saber qual seria as prioridades de investimento. Daí, Caio coloca que a pesquisa prioritária é a “pesquisa de qualidade”. A realidade o que podemos perceber é que os interesses econômicos, a aplicabilidade e outros fatores são tidos como prioritários por muitos.
É preciso avaliar esse processo, uma vez que estamos falando de recursos públicos.E o cientista realmente produtivo deseja que seu trabalho seja avaliado.
A historia de pesquisa no Brasil, mostra que na Proclamação da Republica (1889), tínhamos duas escolas de direito, duas de medicina e duas politécnicas e nenhuma delas com atividade de pesquisa regular. Portanto, a atividade de pesquisa no Brasil, inicia em institutos específicos de pesquisa e não nas Universidades. Somente no segundo governo de Vargas é que foi realizado a criação do CNPq, Capes e investimento em pesquisa em física nuclear.
Hoje a pesquisa se realiza nas Universidades, nos institutos de pesquisa e etc, e esta é conduzida por grupos de pesquisa. Atualmente as agencias financiadoras de pesquisa são: CNPq, Capes, Finep, MCT, Faps, etc...
Com a criação do CNPq., a sua ação direta é com o pesquisador e não com a instituição, e para tal o pesquisador necessita se candidatar por meio de editais.
A Capes (Cordenação de Aperfeiçoamento do pessoal do ensino superior), a principio tinha o papel de melhorar a formação dos docentes do ensino superior. Neste caso a interação era feita Capes-Instituição. Hoje a Capes é um órgão ligada ao MEC, e esta no decorrer dos anos foi alterando seu objetivo.A partir da década de 60 começa a institucionalização da pós-graduação no Brasil e a Capes passou a avaliar os cursos de pós-graduação.
Após essa explanação acerca da Capes, Caio trouxe algumas considerações acerca de instituições tais como: BNDES, FINEP, FAPs (Fapesb). Num contexto histórico quanto à situação de pesquisa no nordeste brasileiro percebe-se um aumento expressivo dos recursos humanos para pesquisa no nordeste.
Tive a oportunidade de perceber em todo esse contexto é a necessidade de se criar novos mecanismos de financiamento e que para se fazer pesquisa é preciso pesquisador com competência, temais atuais, liderança cientifica e recursos financeiros.


* Imagem retirada do site: http://www.semppg.ufba.br/

Alguns momentos registrados no SEMPPG...





05 novembro, 2006

A Inclusão e o letramento digital

Esses dias estava lendo alguns artigos do livro Inclusão digital: tecendo redes afetivas /cógnitas, de Nilze Pellanda, Elisa Schlunzen e Klaus Junior. E um desses artigos que chamou muito minha atenção foi o artigo de Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, cujo título é Letramento Digital e hipertexto: Contribuições à educação.
Pois nesse artigo a autora faz uma associação entre a alfabetização digital e letramento digital. A princípio a autora ressalta a questão do analfabetismo propriamente dito, com a questão do analfabeto funcional (aqueles que aprenderam as letras – a codificação, porém não conseguem utilizar a leitura e a escrita em práticas socioculturais). Já para o IBGE o analfabeto funcional são aqueles cuja escolaridade não chegou a quatro anos de estudo, independente das condições contextuais. Um outro conceito apresentado para o analfabeto funcional, é o conceito trazido pela UNESCO, em que considera o analfabeto funcional todas as pessoas que mesmo dominando a leitura e a escrita não demonstrem competência para empregá-la em seu desenvolvimento pessoal e profissional.
A partir dessas reflexões acerca do analfabeto funcional é que podemos chegar à questão do Letramento, que para Soares (2002), está relacionado com a apropriação da leitura e da escrita para exercer a cidadania, ter condições de acesso à cultura da sociedade letrada e corresponder as suas demandas utilizando o ler e escrever em práticas sociais. Ou seja, o letramento diz respeito ao aprender – tomar para si - a tecnologia da escrita e utilizá-la socialmente.
Nesse contexto, no centro dessas discussões sobre o mundo do letramento, é que entra em cena a questão do desafio da utilização da TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação). E esse desafio está relacionado principalmente para aqueles que sequer conseguem empregar a escrita em situações de sua vida, daí surge à necessidade de ações com o intuito a formar pessoas letradas com competências a resolver as situações do seu cotidiano e paralelo a isso poder enfrentar os desafios de sua inserção na sociedade da informação.
Outro ponto a destacar ainda nesse artigo, é quanto ao letramento e a TIC, nesse sentido o que consigo enxergar nessa pesquisa acerca da questão da Inclusão digital, é que muitos conceitos e até mesmo muitas ações estão baseadas no reducionismo de somente ter “acesso à máquina” , como se isso fosse suficiente para que aquela pessoa pudesse por assim dizer, estar incluída digitalmente. Porém, essa é uma idéia simplista e equivocada supor que basta apenas colocar computadores em diferentes lugares e ter cursos instrumentais de informática, que as pessoas estarão incluídas digitalmente ou até mesmo estarão letradas digitalmente.
É evidente, que o computador se faz necessário, uma vez que o letramento digital necessita da TIC para se concretizar, porém se pensamos nesse contexto a questão da “exclusão digital”, não seria apenas estar alheio, ou ausentes do computador e sim é continuarmos incapazes de pensar, criar, produzir, nesse contexto digital. Pois ter acesso a TIC e utilizar seus recursos com certa proficiência, tanto pode indicar ação de um usuário consumidor passivo quanto de um usuário crítico. Já que ler telas, apertar teclas, utilizar programas, ter um cursinho rápido de informática para ter conhecimento de certos Softwares, e etc, esta para a inclusão digital da mesma forma que à alfabetização no sentido pleno de apenas identificar as letras, da codificação e decodificação. Nesse sentido Almeida, ao citar Buzato diz que,

a fluência tecnológica se aproxima do conceito de letramento como pratica social, e não como simples aprendizagem de um código ou tecnologia; implica a atribuição de significados à informação provenientes de textos construídos com palavras, gráficos, sons e imagens dispostos no mesmo plano, bem como localizar, selecionar e avaliar criticamente a informação e comunicação e empregando na leitura do mundo, na escrita da palavra usada na produção e representação de conhecimento” (Buzato, 2003)

Entendo, que ao proporcionar uma certa fluência tecnológica as pessoas, significa também que torna-se preciso proporcionar uma utilização da TIC de forma crítica, com o objetivo de se obter uma aprendizagem significativa, autônoma e continua, de se oportunizar a produção de conhecimento necessários a sua melhora de vida, e por fim apoiar a criação de nós da rede de relações comunicativas em que todos posam ter acesso e possam assim se conectar.
Nessa perspectiva, podemos trazer também as idéias de Paulo Freire, quando este coloca a questão da alfabetização como ponto de partida a leitura da palavra por meio da leitura de mundo. Portanto, nesse sentido Almeida (2005:174) conceitua o letramento digital como “o domínio e uso da tecnologia de informação e comunicação para favorecer ao cidadão a produção critica do conhecimento, com competência para o exercício da cidadania e para inserir-se criticamente no mundo digital, tal como um leitor ativo, produtor e emissor dessa informação”.
Desta forma, podemos dizer que o letramento digital favorece de uma certa forma a inclusão crítico-social e o desenvolvimento de proficiência tecnológica. Ainda nessa perspectiva do letramento digital, é preciso levar em consideração o contexto em que o alfabetizando esta imerso, ou seja, sua realidade de vida e de trabalho, suas crenças, necessidades e expectativas, para que este possa explicitar suas curiosidades sobre o mundo digital e as problemáticas do seu dia-dia.
Ao associarmos essa realidade a uma ação de Inclusão digital, teríamos como proposta metodológica temas geradores que venham se originar a partir das necessidade dos usuários, como também esses temas geradores podem estar associados à experiência de vida, trabalho, curiosidades e desafios a serem alcançados no mundo digital. Tal proposta, parte do pressuposto de entendermos que a incorporação das práticas sociais de leitura, escrita e comunicação por meio da TIC, favorece de uma certa forma a leitura do mundo, assim como possibilidades e contradições desse mundo digital.
Nesse processo de alfabetização digital, estamos cientes que a instrumentalização e o acesso favorecem por assim dizer “ao domínio aos recursos tecnológicos”, porém, não a uma formação de usuários críticos, tanto quanto usuários com competências para utilizar a TIC em suas atividades do cotidiano. Daí a grande necessidade e esforços no sentido de proporcionar a democratização do acesso, principalmente a Internet e à informação, e sobretudo, a necessidade de desenvolver competências que favoreçam aos usuários desenvolver criticamente sua proficiência tecnológica, para que possa utilizar a TIC, de forma a atuar em sua vida como um todo e que possam adentrar criticamente no mundo digital e praticar a liberdade de socializar, discutir, construir e reconstruir, e por fim, que possam publicar seus conhecimentos produzidos, como também fazer com que todo esse processo tenha algum significado na vida de cada um.

Referências:

ALMEIDA. Maria E. B. Letramento digital e hipertexto: contribuição à educação. In: PELLANDA, Nilze Maria. Inclusao Digital: tecendo redes afetivas/cognitivas. São Paulo : DP&A, 2005, p. 171-192.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 2003.

SOARES, Magda. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educação e Sociedade, Campinas. V.23, n.81, p.143-160, dez. 2002. Disponível em:<>. Acesso em 04 nov. 2006